sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Historia da cigana margarida

Lenda da Cigana Margarida

Lenda da Cigana Margarida
No passado eu escrevi um texto intitulado: “Ser Chamado de Margarida Não é Ofensivo”, onde eu citei sobre a simbologia desta flor e falei um pouco sobre a lenda da cigana Margarida. Então muita gente me escreveu assim:
- Gostaria de saber mais sobre a estória da cigana Margarida!
Por isto escrevi o conto com detalhes abaixo:
Na Idade Média, existia uma cigana chamada Margarida que era especialista em trabalhos amorosos. Um dia, sua caravana armou acampamento nas terras de uma rainha muito interessada em ocultismo. Desta maneira a monarca, ao saber da novidade, convidou a cigana para morar em seu castelo e fazer magias de amor. Porém Márcia, uma bruxa que era conselheira da rainha, ficou com inveja de Margarida e transformou a pobre numa flor no meio do jardim real. No dia seguinte, a rainha começou a perguntar:
- Onde está a Margarida?
- Onde está a Margarida?
Então isto virou bordão no castelo inteiro.
Naquela mesma noite, uma serviçal sonhou que a bruxa tinha transformado a cigana numa flor no meio do jardim. Deste jeito, esta moça foi tonta até o local, pegou a margarida e falou:
- Gostaria de saber se meu cavalheiro voltará para mim.
- Tenho que saber se ele me quer ou não!
Desatinada, a jovem começou a arrancar pétala por pétala da flor e a sussurrar:
- Bem-me-quer..
- Mal-me-quer...
A última pétala foi arrancada no bem-me-quer e no dia seguinte o pretendente da serviçal veio pedir a jovem em casamento. Quando ela retornou ao jardim, notou que a margarida estava intacta no local. Assim a donzela contou ao castelo inteiro sobre o fato e as moças começaram a imitar a sua atitude. Mas a margarida, sempre voltava inteira de pé no dia seguinte. Deste jeito surgiu o jogo do Bem-Me-Quer e Mal-Me-Quer.
Quando surgiu o primeiro dia de Primavera, a flor encantada voltou a ser mulher. Desta forma, andou pelo castelo e como todos pensaram que se tratava de uma assombração, chamaram a guarda real inteira. Então, desesperada, a cigana resolveu retirar uma pedra do castelo para que pudesse passar pelo buraco e escapar de tudo aquilo. Porém alguém perguntou:
- Onde está a Margarida ?
Outra pessoa respondeu:
- Ela está no seu castelo!
- Tirando uma pedra!
Um dos guardas exclamou:
- Uma pedra não faz falta!
Quando a moça conseguiu tirar a pedra, apareceu a bruxa que disse:
- Não adianta você escapar!
- Pois você só virará mulher no primeiro dia de Primavera porque nos outros dias você voltará a ser flor no meio do jardim real.
Desta forma, Margarida saiu correndo até o jardim, avistou pessoas tentando tirar as pedras do muro para visualiza-la e passou a ouvir a seguinte música:
_ Onde está a Margarida, olê, olê, olá ?
_ Ela está em seu castelo, olê, olê, olá
_ Ela está em seu castelo, olê, seus cavalheiros
Eu queria poder vê-la, olê, olê, olá
Eu queria poder vê-la, olê, olê, olá
Mas o muro é muito alto, olê, olê, olá
Estou tirando uma pedra, olê, olê, olá.
Uma pedra não faz falta,
Estou tirando duas pedras
Duas pedras não fazem falta 

Estou tirando outra pedra...
Apareceu a Margarida,
olê, olê, olá
Porém quando chegou a meia-noite, a moça voltou a ser flor. Desta maneira surgiu esta famosa música chamada “Apareceu a Margarida”



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quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

A HISTÓRIA DA CIGANA SARA MENINA.

  1. A HISTÓRIA DA CIGANA SARA MENINA.







 A História da Cigana Sara Menina.

Foi numa noite de luar que a vi,
noite bela de céu estrelado,
sem pensar parei perto de ti,
com sua dança me deixou encantado.

    Menina Cigana ou Cigana Menina,
a ti peço para ler a minha mão,
ela a mim chegou e apenas sorria,
Cigana tão linda me dê proteção.

    No Céu estrelado a Lua a Brilhar,
na minha mão a sua mão tão pequenina,
encanta com fascínio a quem dela se aproximar,
Bela Cigana linda rainha Sara Menina.

    A linda Ciganinha Sara Menina, tem sua história encarnada em
várias regiões do Brasil., pois seu povo nômade por estar sempre a
viajar sem paradeiro, tinha a felicidade de conhecer várias e várias
regiões por todo o mundo.

    Essa Ciganinha era muito sorridente, tinha o dom da quiromancia
(arte de ver o futuro das pessoas pelas linhas da palma da mão), tinha
o frescor das flores, a leveza dos ventos no qual fazia dessa Cigana
uma dançarina sem igual. De pouca idade e com uma face digna de uma
princesa, a Cigana Sara Menina chamava a atenção em todos lugares que
estava, e tanto Ciganos ou Gadjos ficavam encantados com tanta beleza
daquela Cigana de olhar infantil.

    Logo que entrou na adolescência, a jovem Sara foi apresentada como
a mais nova futura noiva de algum Cigano, que deveriam ser levados
pelos pais até o pai da Ciganinha, a vontade de desposá-la, tendo que
para isso demonstrar as suas riquezas, pois aquele que mais tivesse
bens, seria o escolhido para ser o futuro noivo da menina.

    Mas na mente da menina Sara, não era justo essa colocação sobre a
vida dela. Ela tinha sonhos, vários sonhos, e entre esses sonhos, o de
se casar por amor, o de poder escolher a pessoa que iria acompanhá-la
pelo resto da vida, fora que ela se achava extremamente nova na idade
para ter um compromisso desses.

    Sara também tinha outros sonhos, o de ser tão respeitada como sua
Madrinha, uma Cigana de meia idade, que era a senhora das porções
mágicas, a que ajudava a todos, a que não era submetida as vontades
dos homens do clã, pois fazia o que desejava, na hora que desejava,
sem que o chefe de seu povo mostrasse insatisfação com isso.

    Sara queria ser independente assim como sua madrinha, e dessa
madrinha que aprendeu muitas e muitas lições sobre o mundo oculto e
espiritual dos Ciganos. E com isso ela percebeu que poderia mudar seu
destino, não que não se orgulhasse de sua mãe e de todas as outras
Ciganas, que realizavam um trabalho constante e duro que era feito nos
acampamentos, mas ela achava que poderia fazer muito mais, poderia
fazer a diferença, poderia ajudar muito mais com sua benevolência,
sua magia, seu carinho e seu amor para com todos os semelhantes,
sendo Ciganos ou Gadjos.

    Com acerto entre famílias, a Cigana Sara Menina teve seu
pretendente escolhido, era um jovem rapaz que tinha orgulho de seu
povo, e orgulho maior de suas tradições, entre elas a de fazer a
da esposa uma mulher submissa, que deveria seguir as ordens e a
vontade do marido, ser a guardiã dos filhos, e se submeter as ordens
não só do esposo mas também de toda a família dele.

    O pai de Sara gostou do acordo feito e ordenou que o entrelace
deveria ser feito dentro de 3 meses, e que todos deveriam se preparar
para a festa, que duraria ao menos 3 dias.

    Sara entristecida mas obediente aceitou sem mencionar a sua
verdadeira vontade, a vontade de ser livre, de ajudar a quem
necessitava, de fazer a caridade.

    Tudo aquilo ligado ao seu povo era muito pequeno para os sonhos da
menina, mas ela acreditava que não teria como fugir de seu destino.

    Certo dia Sara teve que ir ao encontro de uma velha Cigana, Cigana
essa que fazia as imantações, fazia os ensinamentos, fazia as regras
que uma jovem Cigana, que estava prometida em casamento a um Cigano,
deveria entender e fazer tudo conforme o ensinado e determinado.

    Entre essas lições, ela tinha que aprender a abordagem a pessoas
dos arraiais próximos, para que assim fosse demonstrado seu dom de
quiromancia, vidência, mostrar que estava preparada a falar do
passado, presente e futuro de alguém, ao troco de algumas moedas, ou
joias, sendo esses rendimentos levado ao esposo, como forma de
gratidão por ele a tê-la desposado.

    E assim foi feito pela menina Sara, sendo olhada de longe por sua
mestre de magias, ela se infiltrava no meio do povo, que demonstravam
um certo receio de chegar perto da pequena Cigana.

    Nesse momento ela sente alguém segurar em seu braço. com um leve
sobressalto ela olha fixamente em direção a pessoa que ainda estava a
segurando.

    Era um rapaz branco, de sorriso leve, olhos brilhantes, tinha suas
vestes surradas, e que logo foi lhe perguntando se ela poderia ver
seu futuro.

    A menina com um olhar desconfiado, mas um tanto encantada com o
rapaz, respondeu que sim, poderia mas queria algumas moedas em troca.

    Após o acordo feito ela pegando na mão do gadjo, começou a falar.

    "Você é um moço guerreiro, vive para e pela caridade. Tem no
sangue a vontade de justiça, e está aqui de passagem. Terá muitos
inimigos, mas terá muitos que vão guardar seu nome, seu rosto, seu
carinho e sua caridade até os últimos dias de vida. Não terá ouro nem
prata, mas terá a benção do Pai Maior em sua evolução espiritual. Sua
vida parece não ser longa, assim como longa também não será a vida de
sua companheira de jornada. Vejo sangue, muito sangue em seu caminho.
Desamor, injustiça, morte. Vejo crianças mutiladas, grandes crateras
tomadas por corpos inertes. Vejo você chorando. Vejo você abraçado a
uma moça, seu rosto não aparece. Ela parece chorar. Dois grupos estão
tentando eliminar vocês. Estão abraçados. Gritos, armas de fogo, armas
brancas. Vocês..."

    O rapaz atento pergunta: "Vocês?"

    Ela entristecida cerra os olhos, se cala, e diz: "Acho que estou
enganada. Desculpe, tome de volta suas moedas." E sai em disparada,
sem que o gadjo consiga a alcançar no meio da multidão.

    A menina Sara vai de encontro com sua mestre nas magias Ciganas,
em desespero pedindo para que voltassem ao acampamento. A mulher
Cigana a olha no fundo dos olhos e diz a pequena assustada que a vida
as vezes prega peças grandiosas, e que aquele momento tinha se criado
uma nova era para a pequena, daquele instante para frente muitas
coisas poderiam mudar, ela poderá conhecer novos horizontes e novos
caminhos, novas pessoas e novas caridades, novas alegrias e novas
tristezas, novos sentimentos, como o puro amor e a dor do ódio, poderá
entender e até ultrapassar a linha da vida com a da morte.

    Dizendo isso a Cigana que era a dona das magias pega na mão da
menina e a leva a passos largos para o acampamento, pedindo a ela que
rezasse, orasse e clamasse a Santa Sara Kali por proteção e luz na
hora de sua caminhada de aventuras e de dor extrema.

    A menina ainda sem entender muito bem todas aquelas palavras da
velha Cigana, fez o que lhe foi mandado. Contudo uma coisa ainda a
perturbava a mente entre uma oração e outra. E era a imagem do jovem
gadjo, a imagem de seu sorriso, a imagem de seu olhar.

    Sete dias se passaram, e numa tarde de primavera, Sol em alta, céu
azul cintilante, a jovem Sara foi aos pés da cachoeira se banhar, e no
caminho se depara com o gadjo, que tanto lhe chamou atenção.

    Ela se afasta um pouco das outras Ciganas, e por entre as árvores
para diante do rapaz.

    Após um pequeno diálogo, ela sente-se eufórica, feliz como nunca
havia se sentido antes. Sabia que era um sentimento que jamais
sentira, e sabia que era algo relacionado com a presença do gadjo.

    A partir desse dia os encontros se tornaram frequentes, dia após
dia a menina Sara conseguia escapar das vistas das Ciganas, do
acampamento e das correntes de seu clã para ir ao encontro do jovem
rapaz.

    Muitas eram as conversas, muitas eram as aventuras contadas pelo
rapaz. Ele era uma pessoa caridosa, tinha nas veias o sangue de um
guerreiro, que se importava com tudo e todos. E foi numa dessas
conversas que o jovem conto a menina sobre seu trabalho árduo de
libertar, acalentar, cuidar, proteger crianças órfãs judias e nômades,
que eram caçadas pelos atrozes homens da guerra.

    Sara se encantou com tudo isso, e decidiu que esse era o caminho
para demonstrar sua caridade. Desejava fortemente fazer parte desse
trabalho. Decidiu abandonar seu clã, suas tradições, seu pretendente,
sua vida cigana. Sentia no coração a chama da caridade. Seus olhos
brilhavam, seu coração pulsava rapidamente.

    Após uma longa conversa, os dois decidiram, partir para longe do
clã, em busca de auxiliar essas crianças. E assim foi feito.

    Durante algum tempo resgataram as crianças órfãs, levando-as para
esconderijos, dando-lhes alimentos, medicamentos, proteção e amor.

    Sara e o jovem gadjo, apaixonados, faziam juras de amor entre si.
E juntos planejavam novos resgates de crianças em campos de
extermínio, que eram usados pelos homens da guerra para assassinar
esses seres inocentes.

    Soldados nazistas que espalhavam um ódio sem limites, começaram a
perseguir o jovem casal, principalmente após saberem que era uma
Cigana que estava indo contra as ordens sangrentas dadas pelo primeiro
escalão da guerra.

    Muitas perseguições passaram a acontecer sobre o casal. Sara que
tinha a vidência Cigana, conseguia analisar e escapar de tantas e
tantas emboscadas. Mas com a mente voltada para tantas e tantas
covardias feitas pelos soldados nazistas, Sara se fixou somente a
esses atrozes, esquecendo-se de seu antigo prometido a entrelace.

    O jovem Cigano que antes tinha a menina Sara como prometida, não
poderia aceitar, pelas suas tradições, que sua futura esposa o
deixasse, que ela descumprisse o acordo firmado entre as famílias, que
ela fugisse do acampamento sem dizer nada. Ele estava desonrado, e só
teria um modo de voltar a ser respeitado dentro do clã. A morte de
Sara.

    Ele partiu em busca de limpar sua honra, principalmente após
descobrirem que a jovem tinha fugido com um gadjo. Ambos deveriam
morrer.

    Meses e meses se passaram, a guerra continuava, milhares de
crianças judias e nômades foram salvas pelas mãos do jovem casal. E o
Cigano que buscava pela justiça não desistia de encontrar a menina
Sara e seu amor proibido.

    Até que certo dia, em uma das milhares de fugas, Sara e o jovem
gadjo se encontraram encurralados pelos soldados do mal. Em uma
pequena clareira cercados por uma dezena deles, o casal não sabia o
que fazer. Vendo o ódio nos olhos dos soldados, Sara se lembrara das
palavras da velha Cigana no dia em que encontrou o jovem gadjo pela
primeira vez, lembrando-se também das suas próprias palavras ao ler as
linhas da mão do jovem que lhe trouxe tantos sentimentos lindos.

    Ela sente lágrimas rolarem em seus olhos. Sabia que o fim estava
próximo. Sabia que era o momento de se separar de seu amor, o momento
de não mais poder fazer a caridade para aquelas tão sofridas crianças.
Lembrou que ela mesma ainda era uma criança,.

    Olhou para o rosto sofrido de seu amado, escutou um estampido de
arma de fogo, viu o sangue do gadjo nascer do seu peito, viu o ultimo
sorriso tímido do rapaz para ela, viu seu corpo caindo inerte ao chão,
viu a morte chegando e levando a alma límpida do rapaz.

    Em sua volta soldados de armas em punho, gargalhavam a morte do
rapaz. Ela cai de joelhos, e no seu silêncio mental e entimo clama
por sua Amada Santa de devoção, a linda Santa Sara Kali, pedindo-lhe
que acolha o espírito de seu amado, que a proteja, e que sua dor dessa
perda sendo maior que a dor de seu próprio desencarne, ela pede
humildemente que a morte também a levasse, pois acreditaria que
nunca sentiria uma dor tão grande, como a dor de ver aquele jovem
rapaz com seu corpo ao chão banhado de sangue, o sangue do heroísmo e
da coragem de lutar em favor da caridade feita as pobres crianças
órfãs. As crianças que também deveriam ser eliminadas pelo terror da
guerra, se esse jovem gadjo não tivesse entregue sua própria vida para
tentar salvar, uma a uma desses pequenos seres que estavam morrendo,
sem ao menos entender o porque.

    A pequena Sara de cabeça baixa em suas orações, por um instante
ergue os olhos já esperando pela sua morte pelas mãos dos sangrentos
soldados, que já se preparavam para atacar a jovem, quando sem que
esperassem foram atacados por um grandioso grupo de Ciganos,
liderados pelo jovem Cigano que um dia a menina Sara fora prometida
por seu pai.

    Nesse ataque inesperado, muitos soldados desencarnaram, assim como
alguns Ciganos, mas como o número de Ciganos era maior, os soldados
nazistas bateram em retirada, tentando salvar a própria vida.

    O jovem Cigano chegando ao encontro de Sara, ergue-lhe as mãos
para auxiliar que ela se levantasse do chão empoeirado e com sangue a
todos os lados.

    Sara se encontrava ilesa, apesar da grande luta entre Ciganos e
Soldados, mesmo ela ao centro de todo acontecimento, ela não tinha
nenhum ferimento aparente, a não ser de seu coração dilacerado pela
perda de seu jovem gadjo.

    Os Ciganos rapidamente saíram do local em questão, pois era certo
que soldados retornariam para uma vingança sobre os seus atrozes
atacantes. Sara fora levada junto, mesmo desejando ficar, pois o corpo
de seu amado ainda se encontrava no local, que nesse momento estava
rodeado por curiosos e alguns aproveitadores, tentando pegar algo de
valor nos bolsos do jovem falecido, sem o menor constrangimento e o
menor respeito.

    Sara ao ver o que se passava, tentou se livrar das mãos dos
Ciganos que a puxavam fortemente para que ela acompanhasse o grupo. O
jovem Cigano, sem esboçar um só gesto facial, continuava seguindo a
frente de seu grupo, como que se as ações da menina Sara não lhe
chamasse atenção.

    Sara partiu chorando copiosamente, presa nas mãos de outros
Ciganos, como uma verdadeira prisioneira. E assim partiram em direção
do acampamento de seu povo.

    Ao chegar ao acampamento, o Cigano na qual a menina Sara era
prometida, manda reunir todos os clãs, que ali se encontravam para os
festejos do casamento de ambos.

    Os Ciganos se reuniram na clareira, onde estava uma grande
fogueira acesa, que na tradição daquele povo, era para iluminar o
futuro casal, para terem fartura, saúde e tudo mais que um jovem
casal Cigano buscava ao se entrelaçar matrimonialmente.

    Os pais e todos os familiares da menina Sara se encontravam em um
único canto do acampamento. Eles, ainda desonrados pela fuga de Sara
com um gadjo, não compreendiam o aceite do jovem Cigano, que mesmo
após a desonra, ainda fora buscar sua ex pretendida, e fazia todas as
honras que uma jovem Cigana receberia no dia de seu matrimônio.

    Mas algo estava incomodando, não só a Sara, mas a todos do
acampamento. O jovem noivo, diferentemente de outros Ciganos que
sorriam, dançavam, cantavam as músicas lindas ciganas, bebiam
festejando os noivos, ele apenas fixava seu olhar a Sara, sem dizer
uma palavra, sem esboçar um sorriso, demonstrando em seu olhar um ódio
grandioso por tudo que tinha ocorrido.

    Sara por sua vez, sem receio fixou o olhar nos olhos do rapaz, e
pausadamente diz com a voz um pouco rouca, ainda abafada pelo choro e
pela dor de perder seu amor.

    "Sei que seu ódio é maior que seu amor. Sei que toda essa festa é
para você demonstrar seu poder, e o poder de sua família diante de
nosso povo. Sei que essa noite irei ao encontro de meu amado. E sei
que esse amado não é você. Se você acha que me tirando a vida estará
me fazendo mal, está enganado, pois você não pode me tirar algo que já
não tenho mais. Minha vida se foi juntamente com a vida de meu herói,
herói que deu sua própria vida pela vida de crianças que ele nem
conhecia, coisa que você nunca faria. Pois você pode se considerar um
guerreiro Cigano, mas nunca chegará a ser um herói, pois só busca a
guerra, e a guerra apenas de seus interesses. Você nunca será um
herói, apenas um Cigano desonrado. Sei que vai me matar, não sei
quando, mas sei que vai. Vejo sangue, vejo ódio, vejo sua falsidade em
seus olhos. Mas estou em paz, pois vejo minha Santa Sara me
protegendo, me levando, me mostrando um caminho para que continue
minha caridade a meus semelhantes, coisa que seu egoísmo nunca o
deixará fazer."

    Ouvindo essas palavras o Cigano jovem, se levanta, vai até o
centro do acampamento, chama a atenção de todos, a música para, o povo
se silencia, a família de Sara se aproxima a pedido do rapaz.

    Ele com um tom de voz firme, mas um tanto irônico, começa seus
dizeres, que após alguns dias de buscas, cá estava ele pronto para seu
casamento com a jovem prometida. Pede para dois Ciganos trazerem a
menina Sara, que chega até junto do rapaz. Ele com os olhos vermelhos
de ódio, esboça um leve sorriso, dizendo: "Você Sara, está prometida a
mim, seu pai fez o acerto com o meu, não tem como fugir de seu
destino. Esteve distante por algum tempo, mas agora está aqui. Você é
minha, e eu determino o que será de seu futuro."

    Sara com um olhar serio mas sereno diz ao Cigano: "Meu destino
está nas suas mãos. Minha vida lhe pertence até o brilhar de sua
adaga pelo clarão da Lua e de sua covardia. Estou em suas mãos aqui,
mas logo estarei nas mãos e na proteção de Sara Kali, onde poderei
voltar a ser feliz fazendo o bem e sem precisar me esconder dos homens
da guerra e Ciganos do mal."

    O Cigano fecha o semblante, retira de seu bolso um anel de ouro,
tendo esse anel um detalhe de estar quebrado, que dentro das tradições
e crenças ciganas significa que o compromisso não existe mais. Mas
mesmo assim ele o coloca no dedo de Sara, enquanto todo povo não
compreende as verdadeiras intenções do Cigano.

    Ele abre um sorriso irônico, abraça a menina Sara, e nesse abraço
tira sua adaga da cintura e crava nas costas da Cigana sob o olhar
atônito de todos que ali se encontravam para acompanhar o casamento.

    Ele ainda abraçado ao corpo de Sara, diz em seu ouvido: "Esse é
meu presente para você, a minha prometida, estou livrando a ti de
passar o resto de sua vida com um homem que você não ama, que você não
admira, que você não vê como um herói. Meu presente para você é a
morte"

    Sara, sentindo seu sangue ser perdido, as forças sendo
exterminadas, a dor que percorria todo corpo, sussurra baixinho a seu
atroz assassino dizendo: "Agradeço seu presente, perdi a vida, mas
ganhei a luz em poder evoluir ajudando a quem necessita, ganhei a
felicidade de poder estar junto com minha amada Santa Sara, ganhei a
benção de poder tirar essa dor de não estar com quem realmente me
mostrou a verdadeira caridade, ganhei a liberdade de poder caminhar
sem ser escrava de um Cigano covarde que não sabe o significado da
palavra amor. Só posso dizer-te, muito obrigado."

    Ele retira a adaga das costas de Sara, e ela cai ao chão, inerte,
mas com um semblante calmo e sereno. Ele olha suas próprias mãos com o
sangue da jovem, se desespera, grita, se joga ao chão, abraça o corpo
da menina sem vida, e vendo que ela não responde seus apelos, se
levanta em um desespero extremo, vai para o centro da fogueira, salta
para dentro das chamas ardentes, e com a adaga na mão a insere em seu
próprio peito já em chamas.

    Seu corpo queimado desaparece em meio das chamas. Ciganos e
Ciganas sem saber o que fazer, apenas olham com um olhar atônito, os
familiares gritam pelo seu nome, mas o rapaz nesse momento já se
encontrava morto.

    A noite com o clarão da Lua, fica mais clara com um grande feixe
de luz, que saia das estrelas vindo ao encontro com o corpo da menina
Sara. Desse feixe os Ciganos boquiabertos, viram a imagem da Santa
padroeira daquele povo, e claro da jovem menina, essa imagem desce
até o local que Sara se encontrava, e diante de todos, a imagem de
Santa Sara Kali retorna levando pelas mãos o espírito da menina Sara,
uma espírito iluminado, que demonstrava sorrir, roupas claras, e em
sua mão esquerda o anel de ouro partido.

    O feixe de luz foi se desaparecendo, enquanto muitos Ciganos
caíam de joelhos em orações, outros choravam a partida da menina, e
outros rogavam proteção.

    Sara Menina a partir desse dia foi conduzida ao reino de Entidades
de Luz, e hoje trabalha em prol da caridade em terreiros de Umbanda,
trazendo ensinamentos, pedindo proteção as crianças, mostrando os
males da guerra, os males do ódio, os males que todos seres humanos
buscam com seus sentimentos mesquinhos e intolerantes, sendo esses
seres humanos de todas as raças, etnias, posição social, modo de
pensar, seja eles Ciganos ou Gadjos.

    Que a Cigana Sara Menina nos proteja, nos guarde e nos mostre como
podemos evoluir para um caminho de luz que nos leve aos braços do Pai
Maior.

    Saravá a Cigana Sara Menina!
Opchá Povo Cigano!

O CASAMENTO CIGANO A MORTE E RELIGIÃO

Desde meninas, as mulheres deste povo são prometidas e se comprometem em noivado com primos ou ciganos de outros grupos que desejam unir-se em famílias, às vezes, por interesses comerciais. Os pais dos noivos são quem normalmente decidem esses acertos, que decidem unir suas famílias.

No casamento tende-se a escolher o cônjuge dentro do próprio grupo ou subgrupo, com notáveis vantagens econômicas. Um cigano pode casar-se com uma gadjí, isto é, uma mulher não cigana, a qual deverá porém submeter-se às regras e às tradições ciganas.
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A importância do dote é fundamental especialmente para os Rom; no grupo dos Sintos se tende a realizar o casamento através da fuga e consequente regularização. Aos filhos é dada uma grande liberdade, mesmo porque logo deverão contribuir com o sustento da família e com o cuidado dos menores.


O casamento é uma das tradições mais preservadas entre os ciganos, representa a continuidade da raça, por isso o casamento com os não ciganos não é permitido em hipótese alguma. Quando isso acontece a pessoa é excluída do grupo.
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É pelo casamento que os ciganos entram no mundo dos adultos. Os noivos não podem ter nenhum tipo de intimidade antes do casamento.
Quando o casamento acontece, durante três dias e três noites, os noivos ficam separados dando atenção aos convidados, somente na terceira noite é que podem ficar pela primeira vez a sós.
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Mesmo assim, a grande maioria dos ciganos, ainda exige a virgindade da noiva. A noiva deve comprovar a virgindade através da mancha de sangue do lençol que é mostrada a todos no dia seguinte.
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Caso a noiva não seja virgem, ela pode ser devolvida para os pais e esses terão que pagar uma indemnização para os pais do noivo.
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No caso da noiva ser virgem, na manhã seguinte do casamento ela se veste com uma roupa tradicional colorida e um lenço na cabeça, simbolizando que é uma mulher casada.
Durante a festa do casamento os convidados homens sentam ao redor de uma mesa, no chão. E, com um pão grande e sem miolo, recebem os presentes dos noivos, em dinheiro ou ouro, ao mesmo tempo em que abençoam o casal. As mulheres recebem lenços e flores.
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Estes são colocados dentro do pão ao mesmo tempo em que os noivos são abençoados. Em troca recebem lenços e flores artificiais para as mulheres. Geralmente a noiva é paga aos pais em moedas de ouro, a quantidade é definida pelo pai da noiva.

MORTE


No que se refere à morte, o luto pelo desaparecimento de um companheiro dura em geral muito tempo. Junto aos Sintos parece prevalecer o costume de queimar-se a kampína (o trailer) e os objectos pertencentes ao defunto.

Os ciganos acreditam na vida após a morte e seguem todos os rituais para aliviar a dor de seus antepassados que partiram. Costumam colocar no caixão da pessoa morta uma moeda para que ela possa pagar o canoeiro a travessia do grande rio que separa a vida da morte.

Antigamente costumava-se enterrar as pessoas com bens de maior valor, mas devido ao grande número de violação de túmulos este costume teve que ser mudado.

Os ciganos não encomendam missa para seus entes queridos, mas oferecem uma cerimónia com água, flores, frutas e suas comidas predilectas, onde esperam que a alma da pessoa falecida compartilhe a cerimónia e se liberte gradativamente das coisas da Terra.

As cerimónias fúnebres são chamadas "Pomana" e são feitas periodicamente até completar um ano de morte. Os ciganos costumam fazer oferendas aos seus antepassados também nos túmulos.
O povo cigano acredita na vida após a morte e costuma fazer todos os rituais de purificação da alma para que ela se livre do karma da terra e siga em paz seu caminho de luz. Não existe missa para os entes queridos. Mas, os ciganos oferecem uma cerimônia com água, flores, frutas e suas comidas prediletas, onde esperam que a alma compartilhe com a festa e se liberte das coisas da terra. Antigamente, enterravam os membros do grupo com todos os seus bens, para pagar o canoeiro que atravessa o grande rio que separa a vida da morte. As oferendas são feitas também nos túmulos e as celebrações duram um ano.

RELIGIÃO


Os ciganos não têm uma religião própria, não reconhecem um deus próprio, nem sacerdotes, nem cultos originais. Parece singular o fato de que um povo não tenha cultivado no decorrer dos séculos crenças particulares em mérito à divindade, nem mesmo formas primitivas de tipo antropomórfico ou totêmico.

O mundo do sobrenatural é constituído pela presença de uma força benéfica, Del ou Devél, e de uma força maléfica, Beng, contrapostas entre si numa espécie dezoroastrismo, provável resíduo de influências que esta crença teve sobre grupos que em época remota atravessaram a Pérsia.

Existem pois, nas crenças ciganas, uma série indefinida de entidades, presenças que se manifestam sobretudo à noite.

Quanto à religião, em geral os roma parecem ter-se adaptado no decorrer da história às confissões vigentes nos países que os hospedaram, mas sua adesão parece ser exterior e superficial, com maior atenção aos aspectos coreográficos das cerimônias, como procissões, peregrinações, próprias de uma religiosidade popular ainda largamente cultivada no âmbito católico.

Um sinal de mudança se dá pela difusão do movimento pentecostal, ocorrida a partir dos anos 50, através daMissão Evangélica Cigana, surgida na França.
Em seguida a isso, registram-se todavia profundas lacerações no interior de muitas famílias, devido às radicais mudanças de costume que tal adesão impõe e que encontram explicação na natureza fundamentalista do movimento religioso em questão.

Tais imposições muitas vezes acabam por induzir os roma a uma recusa de suas peculiaridades culturais, ainda que dependa muito da capacidade de crítica e de discernimento de cada indivíduo.

OS CIGANOS

OS CIGANOS E AS PROFISSÕES

Junto com a modernidade, o aumento progressivo das cidades, os ciganos foram ficando cada vez mais limitados em suas andanças, tornando-se mais sedentários ou passando a morar mais tempo no mesmo lugar.


Assim as profissões mais freqüentes são as do comércio e as ligadas às artes, principalmente à musica. Cantores, compositores, músicos, dançarinos, surgem com suas melodias, passos marcantes de dança, como a flamenca da Espanha, trazendo alegria e energia contagiantes para os recintos onde se apresentam.

Ao longo do tempo fizeram e ainda fazem parte de troupes circenses, uma vez que o mundo do circo sempre mudando de lugar, combina perfeitamente com o pensamento e sentimento ciganos.

A leitura de cartas e das mãos pelas mulheres ciganas também rende dinheiro, porém essa atividade não é considerada uma atividade profissional, mas um ato de devoção à fé cigana.

O povo cigano é um povo honesto, que vive procurando manter sua dignidade e honradez, não sendo procedente a reputação de ladrões que lhes é imputada.





O CRIS-ROMANI

Para os ciganos a liberdade e a interação com a natureza constituem bens do mais alto valor e estima, o que os motiva a obedecerem à um código de ética e moral até rigoroso.

Nada mais enganoso que julgá-los estroinas, devassos, desregrados ou amorais. Seu amor pela família e pelo grupo, sua consciência que é o seu reto proceder - talvez a única forma de preservar e perpetuar suas origens e o próprio povo.

São obedientes às leis universais, como não roubar e não matar. Quando um cigano ou uma cigana infringe as leis é convocado o Tribunal de Justiça ou o Cris-romani, formado por ciganos idosos ou pelos mais velhos do grupo, que julgam os infratores, procurando exercer seu papel com o mais alto sentido de responsabilidade e respeito.

O Cris-romani é falado totalmente em romani, e nele somente os homens podem se manifestar. No caso de o infrator ser uma mulher, um homem fala por ela fazendo seus apelos e oferecendo suas explicações ou justificativas.




TRIBOS OU CLÃS?

Os Ciganos não gostam e não aceitam a palavra tribo para denominar seus grupos, pois não possuem chefes equivalentes aos caciques das tribos indígenas, nas mãos de quem está o poder.

“Os ciganos também não possuem pajés ou curandeiros, ou ainda um feiticeiro em particular, pois cada cigano e cigana tem seus talentos para a magia, possui dons místicos, sendo portanto um feiticeiro em si mesmo. Todo povo cigano se considera portador de virtudes doadas por Deus como patrimônio de berço, cabendo à cada um desenvolver e aprimorar seus dons divinos da melhor e mais adequada maneira.


Existem autores que citam que cada grupo cigano tem seu feiticeiro particular denominado kakú, porém esta palavra no idioma romani significa apenas tio, não tendo qualquer credibilidade esta afirmação.

Os ciganos preferem e acham mais correto o termo clã para denominar seus grupos.




A FAMÍLIA

 O comando da família é exercido de maneira completa e responsável pelo homem. Ele é o líder e à ele competem a proteção, a segurança e o sustento da família. A mulher e os filhos o respeitam como máxima autoridade e lhe são inteiramente subordinados.

São os homens que resolvem as pendências, acertam o casamento dos filhos, decidem o destino da viagem e se reúnem em conselhos sobre assuntos abrangentes e comuns ao Clã.

As mulheres ciganas não trabalham fora do lar e quando vão às ruas para ler a sorte, esta tarefa é entendida como um cumprimento de tradições e não como parte do sustento da família, apesar de elas entregarem aos maridos todo o dinheiro conseguido.

Os ciganos formam casais legítimos unidos pelos laços do matrimônio, não fazendo pare de seus costumes viverem amasiados ou aceitarem o concubinato. Vivem juntos geralmente até a morte e raramente ocorrem entre eles separações ou divórcios, que somente acontecem se existir uma razão muitíssimo grave e com decisão do Tribunal reunido para julgar a questão.

Os pares ciganos, marido e mulher, são muito reservados e discretos em público, não trocando nenhum tipo de carinho que possa ser entendido como intimidade, que é vivida somente em absoluta privacidade.

Enquanto o homem representa o esteio e o braço forte da família, a mulher significa o lado terno e de proteção espiritual dos lares ciganos.

Cabe às mulheres cuidarem das tarefas do lar e as meninas ficam sempre ao redor da mãe, auxiliando nos trabalhos da casa, ajudando a cuidar dos irmãos menores e aprendendo as tradições e costumes como a execução da dança, a leitura das cartas e das mãos, a realização dos rituais e cerimônias, os preceitos religiosos.

Se uma criança ou jovem cigano sai dos eixos, tem um comportamento inadequado ou procede mal, geralmente mulher é responsabilizada por tais feitos.



OS REPRESENTANTES DA SABEDORIA

Talvez em todo o clã cigano, sejam os idosos os merecedores da mais alta estima e respeito. Eles são vistos e tratados como os detentores da sabedoria, da experiência de vida acumulada e seus conselhos são ouvidos pelos jovens e pelos adultos como sendo a voz do conhecimento aprendido na prática da vida do dia-a-dia.

Responsáveis pela transmissão oral dos ensinamentos e tradições, eles são considerados como sábios, o passado vivo e manda a tradição que os mais jovens lhes beijem as mãos em sinal de respeito. Possuem lugar de destaque nas festividades e cerimônias, atuando também como conselheiros e consultores nos tribunais de justiça.

Eles são cuidados com desvelo e tratados com toda a dignidade pelos demais. Esta forma de tratamento faz com que se mantenham lúcidos até o final de suas vidas, pois nada é mais doentio para uma pessoa idosa de qualquer sociedade do que ser tratada como resto, uma pessoa inútil e sem valor, um fardo ser carregado pelos mais jovens.





NASCIMENTO


O nascimento de uma criança na família é um evento muito especial. Uma criança nova confirma a continuação da linha familiar e acrescenta respeito a esta. Apesar de famílias grandes ser comum entre os Rom, nem todos os Roma possuem famílias grandes. O anuncio da vinda de uma criança requer certos costumes a serem observados para a introdução de um bebê saudável na família.

Regras rígidas começam a ser observadas no momento da gravidez antes do nascimento em si de uma criança Rom. A maioria dessas regras são baseadas na crença de que a mulher é marimé, ou impura, durante a gravidez e por um período depois do nascimento da criança até o seu batismo. Quando uma mulher se certifica de que está grávida, ela conta ao seu marido e às outras mulheres na comunidade.

A gravidez assinala uma mudança em seu status no grupo. A gravidez significa que a mulher é "impura" e deve ficar isolada o tanto quanto possível de toda a comunidade. Ela se relaciona somente com as outras mulheres na comunidade. Apesar dela continuar vivendo em casa, seu marido pode passar somente poucos períodos de tempo com ela durante a gravidez. Normalmente ele assume as tarefas domésticas quando ela não é mais capaz de fazê-las.

A partir do nascimento, um Rom está sujeito 'a leis e costumes desenvolvidos por séculos e expressados pela Romaniya. Enquanto a severidade de muitas das leis tradicionais vai diminuindo com o tempo, traços delas ainda permanecem. Estas leis variam de tribo para tribo e de país para país. A vida dos Rom é uma vida dura, de constante exposição e perambulação de lugar para lugar. Por estas razões, a severidade tem sido essencial para sua sobrevivência, e rituais severos podem ser observados no momento do nascimento.

Tradicionalmente, o nascimento não pode acontecer na casa da família, seja uma tenda ou um vagão; porque se tornaria "impura". Por causa disto, um número cada vez maior de mulheres Roma preferem deixar o acampamento e suas casas para dar a luz em um hospital, apesar de seus desdém pelo jeito não-Rom de vida.

Não é porque elas pensem que irão receber um tratamento melhor, e sim porque desse jeito elas não irão manchar as suas casas. É permitido dar uma assitência ao parto se este acontece fora de um hospital, indicado por uma parteira, ou possivelmente por alguma outra mulher que tenha a experiência da maternidade.

Existem uma variedade de rituais que devem preceder o nascimento. Um ritual em algumas tribos envolve o desatar de certos nós para que o cordão umbilical não corra risco de ter um nó. Algumas vezes todos os nós nas roupas da gestante são desfeitos ou cortados. Outras vezes, o cabelo da gestante será solto se estiver preso com um pino ou amarrado com uma fita.

À nova mãe é permitido que toque somente objetos essenciais durante os meses de quarentena. Os objetos que ela toca, tais como utensílios para cozinhar e para comer ou lençois, se tornam impuros e mais tarde eles são destruídos. Apesar de tudo isto terminar com o batismo do bebê, algumas tribos são excessivamente cautelosas. Para estas tribos, ainda levam de dois a três meses até que a nova mãe possa se aproximar de seu marido ou retomar suas tarefas domesticas sem o uso de luvas.

Outros rituais simbólicos envolve o reconhecimento formal do rebento por seu pai. Em algumas tribos Roma, a criança é embrulhada em faixas onde tem algumas gotas do sangue paterno. Em outros casos, a criança é coberta com uma peça de roupa que pertança ao pai. É tradicional em outras tribos a mãe colocar o bebê no chão. O pai a apanha e coloca uma tira vermelha em torno de seu pescoço, reconhecendo assim que a criança é sua.

Em algumas tribos a mãe não pode ser vista por homem algum, exceto o marido, até o dia do batismo. O marido enfrenta restrições também. Ele fica proibido de sair entre o por do sol e o nascer do sol para ficar longe de espíritos malígnos, chamados tsinivari, que podem atacar a criança durante a noite. Estes espíritos malígnos atacam a mão também. E somente outras mulheres, e nunca o marido ou outros homens, podem proteger a mãe por causa de sua condição marimé.

O batismo acontece algumas semanas ou alguns meses depois do nascimento, mas é mais comum entre duas a três semanas. Durante este período a mãe e a criança são isoladas da comunidade. Antes do batismo o nome da criança não pode ser pronunciado, ela não pode ser fotografada e em alguns casos o rosto da criança não pode ser mostrado em público.

Este período não termina até o batismo quando as impurezas são lavadas pela imersão na água. Esta é a prática mais freqüente de lavar a criança em água correte, um ato separado de qualquer batismo subseqüente. Depois de lavá-la, a criança é massageada com óleo para fortalecê-la. Em alguns casos, amuletos ou talismãs são usados para proteger o bebê de espíritos malígnos.

Depois da purificação pela água, o bebê formalmente se torna um ser humano e pode então ser chamado pelo nome. Este nome, estretanto, é apenas um dos três que a criança levará por toda a sua vida:

- O primeiro nome dado permanece um segredo para sempre. A Tradição entende que este nome é sussurrado pela mãe, a única que sabe na hora do nascimento e este nunca é usado. O propósito deste nome secreto é para confundir os espíritos sobrenaturais e afastar a verdadeira identidade deles.

- O segundo nome é um nome Roma, aquele usado entre ele, os Rom. Este é conferido informalmente e usado somente entre eles.

- O terceiro nome é dado em um segundo batismo e ocorre de acordo com a religião dominante do país onde a criança nasceu. Este tem pouca importancia para os Roma e é somente uma necessidade prática para ser usado quando em contato com os não-Rom.

Os pais Rom são considerado extremamente permissivos na criação de seus filhos, de acordo com os padrões não-Roma. Isto não significa que os anos que se segue sejam fáceis. O rigor e as dificuldades na existência dos Roma tornam as crianças fortes. A criança possui um lugar especial no seio da família, adorado e guardado por seus pais.

É responsabilidade de todos na família ajudar a cuidar da criança. Ele ou ela aprende e realiza suas habilidades de seus pais, primeiro como um processo de imitação e finalmente ajudando os seus pais no que for preciso. Muito também é aprendido na observação da comunidade de jeito Rom de viver.


O RITUAL DO NASCIMENTO

Toda a criança é bem-vinda entre os ciganos. A preferência é dos filhos homens, para dar continuidade ao nome da família. Após o parto a mulher cigana é considerada impura durante os 40 dias de resguardo. Logo que nasce uma criança, o mais velho do clã prepara um pão e um vinho para oferecer às três "fadas do destino", que visitarão a criança no terceiro dia para designar sua sorte. No dia seguinte, o pão e o vinho serão repartidos com os demais do grupo, principalmente as outras crianças, para atrair proteção e prosperidade. Para espantar os maus espíritos, a criança recebe um patuá com uma cruz bordada e com incenso. O batismo é feito por qualquer membro do grupo e consiste em benzer o recém-nascido com água, sal e um galho verde.

COSTUMES E TRADIÇOES CIGANA

PRECONCEITOS

Os ciganos não se esforçam por quebrar as barreiras que os separam dos demais povos, talvez por saberem que se abrirem os limites de seus acampamentos aos gadjês, ou não-ciganos, a mescla dos povos será inevitável, as tradições perderão sua pureza, os costumes, os hábitos, os princípios e os valores serão de tal maneira modificados, que paulatinamente acabariam por destruir e matar o povo cigano.


Cito aqui alguns casos das consequências do que o preconceito fez esse povo sofrer:

A Igreja os condenava por práticas ligadas ao sobrenatural, como a leitura das mãos e a cartomancia, a discriminação e o preconceito, que até hoje perseguem este povo, devido aos hábitos diferentes de vida, sobrevivendo sempre à margem da sociedade. 


Na Sérvia e na Romênia foram escravos e presos, sendo caçados com muita crueldade, além de sofrerem bárbaros tratamentos. A presença de bandos de ex-militares e mendigos entre os ciganos contribuiu para piorar sua imagem. 

Outras lendas contam que foram os ciganos os fabricantes dos pregos que serviram para crucificar Jesus. Por isso, o clima de grande preconceito se revela nas manifestações que diziam ser os ciganos descendentes de Caim e, portanto, malditos. 

Por conta disso, matanças, torturas e deportações foram praticadas em vários países, principalmente com a consolidação dos estados nacionais, principalmente na Europa, como a Alemanha nazista, na década de 30.

Na época do nazismo, muitos ciganos foram levados aos campos de concentração e exterminados. Calcula-se que meio milhão de ciganos tenha sido eliminado durante o regime nazista.

Atualmente esse povo tão sofrido e, ao mesmo tempo tão alegre, se encontra espalhado por todo o mundo, desde a India, África, regiões asiáticas, Europa, América Latina, incluindo o Brasil, onde alguns grupos conservam as populações seminômades, conhecidas por "Ciganos que permaneceram na Pátria" são os Lambadi ou Banjara. Essa raça tão mística sobrevive hoje de artesanato, comércio de tapetes, especiarias e arte difundida em metal. São regadas a festa, música e várias superstições.




O IDIOMA

Uma das maneiras de os ciganos se manterem unidos, vivos, com suas tradições preservadas é o idioma universalmente falado por eles, o romani ou rumanez, que é uma linguagem própria e exclusiva. 

“É expressamente proibido ensinar o romani para os não-cigano; e os ciganos fieis às tradições, que prezam sua origem, seus irmãos de raça, que são verdadeiros ciganos, sabem disto. 

Portanto, quando alguém que se diz cigano quiser ensinar o romani, geralmente às custas de dinheiro, ou então passar segredos e as íntimas particularidades da vida cigana é bom ter cuidado, pois com certeza, ele ou ela não é um autêntico cigano, obediente aos preceitos e princípios de seu povo. Ele poderá ser até cigano de origem, mas não será mais um cigano de alma e coração capaz de manter a honradez de seus antepassados e contemporâneos autênticos.”

Dicionário Cigano? Pode ser que um dia estas pessoas de vida tão reservada quanto às suas peculiaridades desistam desse estilo de ser e estar, abram as fronteiras de seus acampamentos e aceitem sem reservas a miscigenação. Então surgirão dicionários ciganos. Contudo, será que ainda existirão ciganos?




A TRANSMISSÃO ORAL DOS ENSINAMENTOS

O romani é uma língua ágrafa, ou seja, uma língua ou idioma sem forma escrita. Portanto, para sua perpetuação o romani conta somente com a transmissão oral de uma geração para outra, de pai para filho. Não existem livros ensinando uma linguagem, que não tem sequer uma apresentação gráfica definida, pois se os ciganos tivessem se originado na Índia teríamos os caracteres sânscritos, mas como encontramos ciganos em quase todas as partes do mundo, o romani poderia ter os caracteres da escrita russa, ou egípcia, latina, grega, árabe ou outra qualquer. 

Assim como o idioma, todos os demais ensinamentos e conhecimentos da cultura e tradição ciganas dependem exclusivamente da transmissão oral. Os mais velhos ensinam aos mais jovens e às crianças os conhecimentos do passado, o pensamento e a maneira de viver herdados dos ancestrais.





OS CIGANOS E AS PROFISSÕES

Junto com a modernidade, o aumento progressivo das cidades, os ciganos foram ficando cada vez mais limitados em suas andanças, tornando-se mais sedentários ou passando a morar mais tempo no mesmo lugar. 


Assim as profissões mais freqüentes são as do comércio e as ligadas às artes, principalmente à musica. Cantores, compositores, músicos, dançarinos, surgem com suas melodias, passos marcantes de dança, como a flamenca da Espanha, trazendo alegria e energia contagiantes para os recintos onde se apresentam. 

Ao longo do tempo fizeram e ainda fazem parte de troupes circenses, uma vez que o mundo do circo sempre mudando de lugar, combina perfeitamente com o pensamento e sentimento ciganos.

A leitura de cartas e das mãos pelas mulheres ciganas também rende dinheiro, porém essa atividade não é considerada uma atividade profissional, mas um ato de devoção à fé cigana. 

O povo cigano é um povo honesto, que vive procurando manter sua dignidade e honradez, não sendo procedente a reputação de ladrões que lhes é imputada.




A ORIGEM DO POVO CIGANO


Quando se estuda a origem de um povo, sua formação e desenvolvimento como estrutura social, religiosa, econômica, este estudo se baseia fundamentalmente em documentos ou registros escritos, que ao lado de outros elementos como ruínas da arquitetura da época, pinturas, armas, túmulos, recintos que sugerem ter sido usados como sacros, objetos os mais diversos, especialmente de uso doméstico, recompõem toda a narrativa histórica de um conjunto de indivíduos que habitam a mesma região, ficando subordinados às mesmas leis e partilhando dos mesmos hábitos e costumes.

A mais importante fonte de referência, é a narrativa escrita, encontrada em papéis (pergaminhos, papiros, folhas de papel de arroz), documentos, livros, poemas, mapas, inscrições em lugares santos, ou outros locais de devoção considerados sagrados, onde são encontradas marcas de rituais e altares de oferendas aos deuses.

Como o Povo Cigano, não tem até os dias atuais, uma linguagem escrita, fica quase impossível definir sua verdadeira origem. Portanto, tudo o que se disser sobre a origem do Povo Cigano, será baseado em conjecturas, similaridades ou suposições.

A hipótese mais aceita é que o Povo Cigano teve seu berço na civilização da Índia antiga, num tempo que também se supõe, como muito antigo, talvez dois ou três milênios antes de Cristo. Compara-se o sânscrito, que era escrito e falado na Índia (um dos mais antigos idiomas do mundo), com o idioma falado pelos ciganos e encontraram um sem-número de palavras com o mesmo significado.


Outros pontos também colaboram para que esta hipótese seja reforçada, como a tez morena comum aos hindus e ciganos, o gosto por roupas vistosas e coloridas, e princípios religiosos como a crença na reencarnação e na existência de um Deus Pai e Absoluto.

Tanto para os hindus como para os ciganos, a religiosidade é muito forte e norteia muito de seu comportamento, impondo normas e fundamentos importantes, que devem ser respeitados e obedecidos.




Um dos fatores que me chamaram a atenção para essa possível origem do povo cigano e que também reforçou minha conclusão foi o fato de quando viajei pela India, mais precisamente em algumas aldeias do interior do Rajasthan, observei a aparência, costumes e danças nos lugares que passei. Pude perceber a similaridade no modo de se vertir, os trejeitos da dança, os costumes e até mesmo sua aparência física original. Algumas pessoas chegam até a confundí-los com os ciganos.