segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Indaiá: Uma Cabocla apaixonada pelo mar...

Indaiá:

Uma Cabocla apaixonada pelo mar...

Ela nasceu no litoral de Pernambuco, próximo a toda beleza e exuberância das matas da Floresta Atlântica, da caatinga, dos mangues e dos cerrados. Seu pai era um guerreiro respeitado na tribo e sua mãe era uma grande artesã. Seu povo, de cultura Tabajara, vivia em paz e harmonia até a chegada do homem branco. Sua tribo mudou-se para o interior a fim de fugir da devastação do colonizador. Mas, Indaiá era muito apegada ao mar e sentia falta dele. Então, sempre que podia escapava de sua tribo apenas para visitar as águas salgadas do Oceano.
Um dia, enquanto se banhava nas águas do mar, um dos portugueses, de uma expedição de reconhecimento a avistou e encantou-se com sua beleza. Sua pele morena, seus longos cabelos negros, seu corpo perfeito, chamou a atenção do bandeirante-explorador. E ele a seguiu até encontrar sua tribo. Era o ano de 1535 e ele estava a serviço de Duarte Coelho. Os Tabajaras eram desconfiados, mas evitavam confrontos armados, diferente dos Potiguaras (que gostavam de guerrear).
O Cacique Chefe dos Tabajaras, Arco Verde (Uirá Ubi), possuía uma filha de muita beleza: Tabira; em idade de núpcias, porém sem casar. E o mesmo acontecia com Indaiá, que esperava para ser entregue a um guerreiro de sua tribo. Quando a Expedição de Duarte Coelho chegou até a Tribo Tabajara, o Cacique Arco Verde assustou-se e pensou que era o fim de sua raça. Então travaram uma luta, na qual Jerônimo de Albuquerque foi ferido por uma flecha em um dos olhos. Ele foi feito prisioneiro e condenado à morte. Porém, foi salvo pela intervenção da filha Tabira (também conhecida por Tindarena), que o cuidou e se apaixonou por ele. O casamento dos dois selou a paz entre os Tabajaras e os Colonizadores portugueses. Houve, então, uma negociação de apoio entre ambos, que se uniram contra os Potiguaras. Devido ao acidente, Jerônimo passou a ser chamado de "O Torto".
Com o casamento da filha do Chefe, Indaiá também pode casar-se com aquele que a seguiu: Alexandre Duarte, um dos assistentes da expedição. Tabira foi batizada e recebeu o nome de Maria do Espírito Santo Arco Verde - em homenagem ao Dia de Pentecostes. Indaiá também foi batizada e recebeu o nome de Maria Dolores Arué (em homenagem a Nossa Senhora das Dores). Arué (Alma dos Mortos) era o nome de seu pai. Como os conquistadores conseguiram uma aliança com os chefes indígenas tabajaras e conseguiram dominar completamente os potiguaras. Com ajuda de Vasco Fernandes de Lucena, amigo dos Tabajaras, em 12 de março de 1537 a povoação passou a ser chamada de Vila de Olinda. O nome surgiu devido a uma exclamação do donatário: "Ó linda situação para fundar uma vila!", ao observar a beleza do local.
Tabira e Albuquerque tiveram oito filhos, num casamento considerado ilegítimo. Por isso, ele se casou também com um portuguesa (Felipa), com quem teve onze filhos. Mas, ao todo ele registrou 24 filhos; por isso, o chamavam de "Adão Pernambucano". Indaiá e Alexandre tiveram treze filhos e este manteve-se fiel a esposa que tanto amava. Alexandre levou Indaiá a viagens pelo mar e ela conheceu toda a exuberância do oceano. Ela morreu jovem, aos 28 anos de idade, durante o parto de seu último filho. Alexandre contratou uma ama de leite e uma babá para criar as crianças, pois não se casou novamente.
Indaiá ao sentir que a morte se aproximava, logo após dar a luz, pediu ao esposo que a levasse à praia, pois queria morrer sentindo as águas do mar a lhe tocar. Logo após a morte da esposa, Alexandre andava a beira da praia, onde ouvia a voz da esposa e via seu vulto na água. Ele dizia aos outros que ela havia se tornado uma sereia, mas seus amigos achavam que ele andava delirando por conta da bebida e da saudade da esposa.

Ogun das Sete Espadas Flamejantes!

Ogun das Sete Espadas Flamejantes!

"Eu tenho sete espadas pra me defender, eu tenho Ogun em minha companhia!
Ogun é meu Pai, Ogun é meu guia, Ogun é meu Pai, Senhor São Jorge, filho da Virgem Maria!"

Ele é um dos mais temidos guerreiros da Falange de São Jorge! Sua espada é a justiça flamejante que corta todo o mal! Ele pode descer ao mais baixo umbral e subir ao mais alto astral. Sua força e sua lei são implacáveis com os inimigos visíveis e invisíveis que espalham o mal sobre a Terra. Ele atua principalmente em regiões onde a guerra, a fome e a revolta estão presentes. Sua história só me foi permitida contar depois de muito tempo... Ele fala pouco, mas sua ação é firme e persisitente.
"Ele nasceu na região que hoje se denomina Hungria, no ano de 303 d.C. Sua família pertencia ao clã dos Hunos, que se tornaram conhecidos por suas conquistas. Os hunos eram bárbaros e viviam como nômades. Aonde passavam deixavam um rastro de pavor, pois eram guerreiros natos. Quando eles saíram do Mar Báltico e chegaram as planícies do Rio Reno, montaram acampamento e se estabeleceram por muitos anos na região. Ele viveu muito, lutou muitas batalhas e conquistou inúmeros territórios. Sua dinastia se tornou conhecida, pois de sua herança genética surgiu um dos hunos mais famosos da história: Átila!"
Claro que hoje, esse guerreiro que atende pelo nome de Ogun das Sete Espadas Flamejantes, não se orgulha de seu passado cheio de sangue, conquistas e mortes. Mas, ele disse que "um homem não é homem, se não assumir seus erros do passado e se reconciliar consigo mesmo"!


Uma Cigana Feiticeira... E seu amor por um Ogun de Ronda...

Uma Cigana Feiticeira...

E seu amor por um Ogun de Ronda...

Essa cigana nasceu no ano de 428, num dos vilarejos próximos de Anatólia, local hoje pertencente a Turquia. Na época, o território já havia passado para as mãos dos romanos e os cultos ancestrais eram realizados às escondidas. Durante o sexto século, houve muitas mudanças na região e a Anatólia passou a pertencer ao Império do Oriente, no comando da cidade de Constantinopla.
Quando nasceu, essa menina foi batizada com o nome de Yaesmed, que quer dizer: "A escolhida dos deuses". Ela era bela, inteligente e sagaz e logo foi iniciada nos preceitos da Antiga Religião. Ela seria uma sacerdotisa do Templo dos Balcãs. Cresceu e aprendeu tudo o que a arte oculta poderia lhe ensinar. Mas, antes de entrar para a Ordem da Grande Deusa Ishtar, conheceu um soldado romano e ambos apaixonaram-se. O soldado Fulvio Cesare era filho de um dos comandantes reais do Grande Império.
Sacerdotisas jamais poderiam se casar. E soldados romanos eram proibidos de se unirem com moças de outras tribos. Os dois resolveram fugir para terras distantes, em um país chamado Índia, onde não havia a disputa religiosa. Porém, o destino lhes pregou uma peça e ambos foram pegos. Ela foi confinada no subsolo do templo em jejum absoluto, sem direito a pão ou água. Ele foi executado como traidor da pátria. Ambos morreram separados em nome do amor.
Após desencarnar, Yaesmed foi recolhida, estudou e tornou-se um espírito da Legião do Oriente, trabalhando em favor das mulheres que sofrem por amor. Fulvio Cesare, passou a trabalhar na Colônia Espiritual de São Jorge, auxiliando nos campos de batalha e nas guerras que ocorriam por toda a Europa. Ambos se encontravam às vezes no Plano Espiritual.
Hoje, eles trabalham como falangeiros do Reino de Aruanda. Ela é uma Cigana que atua na Falange do Oriente e que entende de magia, amor e cura. Ele é um falangeiro de São Jorge e que entende de lutas, de guerras e de amor.

Boiadeiro Serra Preta de Minas Gerais... Josué - o Vaqueiro!

Boiadeiro Serra Preta de Minas Gerais...

Josué - o Vaqueiro!

Algumas pessoas desconhecem que uma entidade ao se apresentar na Umbanda possui nome, sobrenome, ponto cantado, ponto riscado, agrupamento ou falange, Linha de trabalho e atuação, entre outras caracterísiticas. Assim, ele se preserva e comprova que é um verdadeiro trabalhador da Seara Umbandista. Um espírito sem treinamento (egun, quiumba ou obsessor) não possui esses predicativos e conhecimentos. Além de toda a apresentação que a entidade faz, ela também possui sua história particular de vida e pode relatar sua última existência e porque utiliza o nome com o qual se apresentou.
Relato agora a história de um boiadeiro que findou sua última existência como vaqueiro no sertão de Minas Gerais: "Josué nasceu em Volta Grande, no estado de Minas Gerais, no ano de 1986. Na época, o município era apenas uma vila com o nome de Além Paraíba. Seus pais trabalhavam em uma fazenda de gado e desde o seu nascimento ele foi muito festejado. O Senhor da Fazenda, que não tinha filhos homens, conheceu o menino e apadrinhou ele. Pediu permissão aos pais para criá-lo como seu protegido. E assim foi que Josué cresceu na sede da fazenda, cercado de atenção pelo patrão e tornando-se seu braço direito em todos os afazeres.
Ao tornar-se jovem já era o condutor do gado da fazenda e o responsável pelos negócios do patrão. Visitava seus pais quando podia, mas vivia bastante afastado deles. Josué também aprendeu a manejar armas e se tornou um jagunço implacável nas cobranças das dívidas da fazenda. Seus pais temiam pelo seu futuro, pois ele era odiado pelos demais fazendeiros e condutores de gado.
Josué apaixonou-se pela filha mais nova de um capataz da fazenda, de nome Maria Mercedes; mais conhecida por Mercedita. Casou-se com ela e teve três filhos. Porém, Maria Mercedes não resistiu ao parto do terceiro filho e morreu ao dar a luz. Josué, que já era impiedoso, tornou-se mais carrasco. Abandonou seus filhos aos cuidados dos avós e decidiu sumir pelo mundo. Sentiu-se perdido com a morte de esposa e sua solidão aumentou. Mercedita estava conseguindo torná-lo um homem melhor...
Quando saiu de Além Paraíba, Josué andou em direção ao norte de Minas Gerais, quase na divisa com o estado de Bahia e Goiás. Conseguiu emprego de vaquejador e conduzia o gado de uma fazenda até outra, nas proximidades das Serras de Janaúba e Januária. Ficou dez anos nessa lida. Costumava parar com o gado a beira do Rio São Francisco e demais rios da região. Andava muito também pelas cercanias de Pedras de Maria Cruz. Descansava embaixo de alguma árvore pelo caminho, fumava seu cigarro de palha e tocava sua gaita de sopro. Muitas vezes parecia sentir a presença de Mercedita lhe aconselhando. Uma vez por ano visitava seus filhos e lhes enviava dinheiro constantemente. Seus pais já estavam bem idosos, mas ele ainda os visitou algumas vezes. Seu antigo patrão já havia falecido e quem cuidava da fazenda agora era um de seus genros.
Nesse tempo Josué tornou-se uma pessoa melhor e até reaprendeu a rezar. A viagem com o gado mudou para os arredores do Povoado Espírito Santo da Forquilha, hoje conhecida como Delfinópolis, localizada mais ao sul de Minas Gerais. Uma terra de muitos rios, cachoeiras  e vales. Josué gostava de apreciar as paisagens dos vales e serras: Serra do Caminho do Céu, Serra Preta, Serra Branca, Serra do Cemitério e Serra da Santa Maria de Pedras. Em suas paradas, mantinha o mesmo costume: deitava embaixo de uma árvore, descansava, pitava seu cigarro e tocava sua gaita.
Josué já estava há dois anos nessa região e em uma de suas paradas, amarrou o cavalo em sua bota embaixo da mesma árvore, para que pastasse junto a sombra e puxou um cochilo. Passado alguns minutos ouviu disparos de espingarda e conseguiu ver assaltantes de gado encurralando suas reses. O cavalo assustou-se e saiu em disparada, levando Josué preso ao estribo. Ele tentou pegar seu canivete para cortar a corda, mas não o alcançou. O cavalo arrastou-o por um longo tempo e Josué bateu com a cabeça em uma pedra, falecendo, assim, instantaneamente.
Os ladrões o encontraram e o sepultaram a beira do caminho, próximo ao rio, pois não eram matadores, apenas roubavam. Onde Josué foi enterrado era possível visualizar o Grupo de Pedras Pretas do Vale. Essa região era conhecida como Serra Preta. Foi assim que ele assumiu o nome de Boiadeiro Serra Preta de Minas Gerais.
Após sua morte, Josué foi recolhido ao Reino de Aruanda, onde estudou, melhorou e passou a atuar na Falange dos Boiadeiros, Vaqueiros e Cangaceiros. Hoje ele trabalha nas Linhas de Ogun e Oxóssi, auxiliando veterinários, técnicos em agropecuária e todos aqueles que cuidam dos animais."

Sâmia e Samir... Os Ciganos do Deserto!

Sâmia e Samir...

Os Ciganos do Deserto!

Sâmia e Samir nasceram em uma Nação livre, de um povo nômade e cheio de histórias: os Tuaregues. Os dois nasceram no ano de 1630 no Deserto do Sahara, num dos Oásis próximos à Líbia - o Kufra. Desde cedo suas famílias se comprometeram em casá-los. Samir, como o seu pai, era um caravaneiro que auxiliava os transportadores de camelos a cruzar o deserto. Sâmia, como sua mãe, era tecelã e fiava a lã dos carneiros para fabricar as roupas das caravanas. Com a idade de 15 anos eles se casaram. E com 16 anos já tinham seu primeiro filho, uma menina de nome Khadija. A vida deles era simples, constante e calma.
Samir, viajava muito, por todo o Deserto do Saara, desde o Sudão e Egito, até Argélia e Tunísia. Além de transportar camelos, também comercializavam outras mercadorias. Ficavam ausentes de casa semanas ou meses, dependendo a distância a percorrer. Alimentavam-se de leite de cabra, carne de carneiro, pães ázimos, tâmaras e damascos. Sua religião era o Islamismo, mas não debatiam nem se interpunham com qualquer viajante do caminho. Respeitavam os diversos costumes de toda a África Setentrional e Oriental. E eram felizes assim.
Samir e Sâmia tiveram mais 3 filhos: todos meninos (Abdul, Omar e Giafar). Viveram o tempo de verem seus filhos casados e conhecerem seus netos. Quando o ano de 1700 inicou, muitos ingleses e franceses começaram a circular pelo Deserto do Saara e muitos conflitos começaram a surgir. Mas, Sâmia e Samir já não pertenciam mais ao deserto. Eles agora estavam no Mundo de Allah.
Após 3 séculos de muitos estudos, Sâmia e Samir trabalham no Plano Espiritual na Colônia do Oriente, servindo a Umbanda Sagrada como Ciganos Tuaregues. Eles se dedicama aensinar a paz, a benevolência e a paciência aos seus assistidos. São ótimos conselheiros e bons ouvintes.

  

Cabocla Sete Saias da Jurema... Uma índia - muitas histórias!

Cabocla Sete Saias da Jurema...

Uma índia - muitas histórias!

Antes de ser aconselhado a escrever essa postagem, eu nem sabia da existência dessa entidade. Quando ouvi seu nome pesquisei e nada encontrei. Ela me procurou e contou sua história e me explicou porque se chama "Sete Saias da Jurema" sendo ela uma Cabocla.
Ela era uma índia Puri, que nasceu em 1537, no Brasil Central, entre o Planalto Central e a Serra da Mantiqueira. O local de seu nascimento ainda era preservado dos olhos dos bandeirantes, até o ano de 1550, quando ela contava então com 13 anos de idade. Seu avô era o Cacique da Tribo e seu pai era um grande guerreiro. Ela tornou-se moça e foi prometida em casamento ao filho do primo de seu pai, de uma tribo vizinha. Seu nome era Jaci, como a Lua e seu noivo se chamava Guaraci, como o Sol. Mas, os dois quase não podiam se ver, então os demais índios brincavam; "Como o sol e a lua eles não podem se encontrar..." E saíam rindo e fazendo graça. Jaci não ligava para as brincadeiras, até gostava...
Ela era uma moça que se divertia ao tomar banho nas cachoeiras e rios da região. Adorava subir as montanhas e cantar para o vento. Ou subia nas árvores mais altas e se comunicava com os pássaros e animais das florestas. Assim passava seus dias, fazendo aquilo que mais gostava: viver em meio a natureza. Também auxiliava os afazeres da tribo e participava de todos os rituais em que eram permitida a participação das mulheres.
Com a chegada dos primeiros bandeirantes em busca de jazidas de pedras preciosas, os embates com os índios começaram a ser travados. Quando o homem branco chegou a região onde se localizava sua tribo, Jaci estava em uma árvore observando e, quando percebeu, o ataque já havia começado. Sua tribo estava despreparada, mas lutou bravamente. Muitos morreram e muitos foram aprisionados. Ela foi levada junto com os outros índios que foram escravizados, para auxiliar na extração de Pau-Brasil e pedras preciosas. Jaci ainda viu sua mãe uma última vez. Seu pai, seu noivo e a maioria dos homens guerreiros das duas tribos foram mortos em combate. Amarrada, junto aos outros de sua tribo, Jaci chegou ao litoral e percebeu que sua terra não era mais a mesma.
Os homens que trabalhavam nas embarcações eram rudes e sedentos de desejo e ao avistar as mulheres indígenas nuas, jogavam-se em cima delas, possuindo-as a força. Essa parte da história, muitos tentam esquecer, mas Jaci nunca esqueceu, pois foi assim que deixou de ser virgem: forçada por um tripulante de um dos navios. Ainda tentou se debater, mas nada conseguiu, a não ser atiçar ainda mais o desejo do homem. Depois de ser usada, Jaci chorou muito, pois não sabia porque Tupã permitia tudo isso... Ela conseguiu perceber que sua Terra estava sendo saqueada e que seus tesourou estavam sendo roubados. Foram obrigados a trabalhar todos os dias em troca da vida. Alguns tentavam fugir e eram mortos. Outros se matavam, atirando-se ao mar. Jaci implorava a Tupã, Mboi e a Mãe Iara, que tivessem misericórdia e abrandassem o coração daqueles homens sem escrúpulos.
Jaci sempre carregava consigo sete penas de cores diferentes, das aves da floresta - recordação de sua tribo e sua terra. Ela teceu um saiote com folhas secas e colocou as penas ao redor, para recordar sua vida perdida. As penas lhe pareciam muitas saias a lhe proteger dos olhos do homem branco. Um ano após sua captura, Jaci ficou doente (doença de homem branco) e sua doença não teve cura. Assim como outras índias, foi largada à míngua para morrer, pois não servia mais aos interesses dos conquistadores. Triste, ela percebeu sua raça sendo subjugada e aniquilada pelos interesses daqueles homens. Quando cerrou os olhos, duas lágrimas verteram por sua terra e sua gente. Assim, morreu Jaci. Assim nasceu a Cabocla Sete Saias da Jurema!

Cacique Cobra Preta... O Mensageiro de Omulu...

Cacique Cobra Preta...

O Mensageiro de Omulu...

Esse Caboclo, que atua na Linha das Almas, foi um Inca que viveu no século XV, na região onde hoje se encontra a cidade de Lima no Peru. O Império Inca era dividido em quatro partes, chamados Suyus. Ele pertencia ao Império Chinchaisuyo, localizado ao Norte. E ainda haviam os Suyus: Kollasuyu, Antisuyu e Kuntinsuyu. Cada Suyu era comandado por um governador, o Tukriquq (ou Apus). Os Suyus se dividiam em regiões (aldeias), que eram comandadas pelos "Kurakas" - uma espécie de Cacique - que se dirigia ao Tukriquq. O Império Inca (chamado na época de Tawantisuyu) era governado por Pachukuti, imperador Inca, que inicou a expansão do Reino e sua divisão em suyus. O governo se concentrava no Templo do Sol (Koricancha) na cidade de Cuzco, considerada a capital do Império e o umbigo do Império Inca. 
Alchuapa, esse era seu nome, pertencia ao Clã das Serpentes Negras e como todo iniciado em xamanismo, mantinha contato com toda espécie de animais peçonhentos durante a iniciação. Podia ficar dias sem comer ou beber e mesmo assim sobreviver incólume. Sua força estava em contactar as cobras negras da região: muçuranas, caninanas e sucuris escuras. Elas se enrodilhavam em seu corpo enquanto entrava em transe, depois de beber o preparado de ervas do ritual xamânico. Ele assumiu como Kuraka uma das aldeias do Suyu norte, após terminar sua formação como xamã e governou até o ínicio do século XVI, quando os espanhóis iniciaram sua invasão. Então, muitas batalhas foram travadas, muitos Apus foram mortos e Alchuapa terminou sua jornada como inca nesta terra.
Alchuapa peregrinou como espírito por toda a América do Sul e viu muitas tribos diferentes e muitos homens de outras nações. Assistiu muitas batalhas e muitas mortes. Muitas transformações aconteceram em suas terras. Quando ele viu o negro chegar ao Brasil para ser escravizado, admirou sua cor de pele, pois era negra como as serpentes que ele conhecia. Alchuapa acompanhou a tudo como espírito e percebeu a força dessa raça, parecida com a sua em determinação. Foi nesse momento que um Ser muito iluminado e de aspecto bondoso se aproximou dele e lhe ofereceu amparo. Alchuapa pensou se tratar de um de seus deuses da tradição Inca, mas o ser lhe disse que veio de outra terra, chamada África.
Alchuapa perguntou quem era ele e o que ele comandava e Ele respondeu:
" - Eu sou o Senhor da Morte! Chamam-me de Omulu!"
- O que o senhor faz nesta terra?
" - Trago uma nova crença ao homem e conforto aos filhos da Terra. Venho com outros como eu e nos chamam de Orixás."
- O senhor também exige sacrifícios?
" - Não, meu filho, apenas recolho as almas e encaminho a uma nova morada..."
- E que morada é essa?
"-É Aruanda, meu filho!"
- Existem outros como o senhor?
" - Existem... E há um que é o maior entre todos e que ensina o amor ao próximo. Seu nome é Oxalá e Ele atua na vibração do amor do Criador de Tudo Aquilo que existe. Eu trabalho para Ele. Venha trabalhar comigo meu filho e eu te ensinarei tudo isso..."
Alchuapa pensou por um momento... Seu espírito estava cansado de peregrinar e ele queria encontrar um caminho que lhe ajudasse a compreender tudo o que lhe havia acontecido. Então respondeu: Sim, eu irei... E foi assim que Alchuapa iniciou sua jornada espiritual como "Cacique Cobra Preta".